quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sem equipamentos - Editorial do JC- 25-11-08

Sem equipamentos

Publicado em 25.11.2008 no Jornal do Commercio

Entre os organismos policiais oficialmente dedicados ao serviço de defesa e proteção da sociedade certamente é o Corpo de Bombeiros o mais apreciado e prestigiado. Nem por isso escapa à falta de meios que aflige, de modo geral, os diversos braços da administração pública, em seus vários níveis. A falta de verbas, a maneira obsoleta como são feitos os orçamentos, os abusos de emendas partidárias desvinculadas do interesse público, e de contingenciamentos aleatórios, tudo isso faz evaporar boa parte do que é arrecadado para os cofres públicos federal, estaduais e municipais. Na parte que cabe ao plano federal, leve-se em conta ainda o compromisso “inegociável” de pagar dívidas independentemente do que tal prioridade possa causar em estragos nas expectativas e necessidades da sociedade. O presidente do Banco Central é de fato inamovível.
Também nos Estados e municípios, a política mais miúda, prevalentemente partidária, ainda domina com firmeza, fazendo com que necessidades e problemas se acumulem sem bom atendimento nem solução, o que só faz torná-los mais graves. Em regiões mais ricas, como no caso de São Paulo, os efeitos desse modo de fazer política ficam mais diluídos pelo fato de que é possível atender a muitas necessidades mesmo sem bom uso das verbas em prol da sociedade. Ainda assim, não se consegue resolver o mais básico dos problemas brasileiros, que é o da violência sem freios, da insegurança institucionalizada. Ali, e também no Rio, as autoridades não são capazes de controlar todo o território de sua jurisdição e, assim, o governo paralelo do crime organizado é uma realidade. As polícias conseguem fazer incursões na área paralela, matam um bocado de gente, conseguem prender alguns bandidos, mas logo têm de bater em retirada.

Aqui em Pernambuco, a atual busca do corpo de uma mulher assassinada e jogada ao mar em Itamaracá mostra, mais uma vez, o desaparelhamento dos nossos valorosos soldados do fogo, como eram chamados até há pouco, apesar de não lidarem somente com incêndios. Para procurar o corpo de Taciana Carvalho, desaparecida há seis meses e que, grávida, teria sido morta pelo ex-policial Marcos Medeiros, os bombeiros contam com meios precários. Um pescador confessou às autoridades que levou o ex-policial, com o corpo da desaparecida, em seu barco e que ele teria matado a mulher e jogado o corpo ao mar. Com base nessa informação, os bombeiros foram acionados para a busca, mas logo os meios disponíveis se mostraram insuficientes e inadequados à tarefa.

Mesmo com a ajuda do pescador que confessou haver conduzido o suposto criminoso com o corpo da vítima, nada se conseguiu até agora. Para cumprir sua missão, os soldados adquiriram bóias de marcação, detector de metais (o corpo estaria preso a âncoras) e repelente contra tubarões, e também um barco maior para trabalhar. Mas é inconcebível que um Corpo de Bombeiros bem equipado não conte com os equipamentos necessários à boa execução de suas tarefas. Também em casos anteriores, sobretudo de incêndios, os bombeiros tiveram grande dificuldade para executar seu trabalho, indispensável em uma sociedade civilizada. Escadas e equipamentos mais modernos não estão atualizados. E a boa vontade e competência dos profissionais não dá para suprir essa deficiência.

Independente de PAC, pré-sal, “Nunca neste País”, temas que enchem a boca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de crise, um tema que ele evita e chama de “marola”, o que temos mesmo é de bem administrar o nosso País. Fazer política é básico. Sem política, não teríamos Estado, democracia. Mas fazer política, boa política, não é sinônimo de submeter-se a estreitas bitolas partidaristas e grupais, que prescindem da ética e do interesse público. Fazer política compreende fazer boa administração, resolver os problemas que surgem, sociais, econômicos. O partido que faz boa política conquista os votos dos eleitores sem precisar comprá-los em troca de favores. Vamos fazer boa política, administrando bem, equipando os órgãos encarregados da segurança e bem-estar da sociedade, enquadrando o crime organizado, fazendo grandes nossa cidade, nosso Estado, nosso País.

Fonte: http://jc.uol.com.br/jornal/2008/11/25/not_309013.php

Nenhum comentário: