terça-feira, 12 de agosto de 2008

O modo certo de extravasar a raiva


O modo certo de extravasar a raiva
Publicado em 05.08.2008
Leila Núbia

Especial para o JC

Engarrafamentos, motoristas ao celular, esperar por alguém que nunca chega, as broncas no trabalho... Se perguntarmos a um homem o que o irrita mais na vida, de pronto pode vir um silêncio, ante tantas respostas possíveis. O desafio de saber lidar com a raiva, revolta, ira, em meio ao estresse geral, nunca foi tão urgente quanto neste início de milênio. E para eles, que desde cedo sofrem pressões de todos os lados para serem fortes e jamais chorarem, emoções como a raiva, reprimida ou não, viram quase companheiras, nem sempre explícitas, no decorrer da vida.

Segundo especialistas, estas emoções fortes ativam o sistema nervoso simpático e põem o corpo em estado de alerta. Se o ambiente que as favorece se prolonga por muito tempo acaba afetando o sistema nervoso e os processos hormonais. Isso pode gerar conseqüências graves, como distúrbios cardiovasculares crônicos – sobretudo hipertensão arterial –, e o enfraquecimento do sistema imunológico. Logo, a questão não é tentar suprimir esses sentimentos, forçar-se a não sentir, mas descobrir formas de descarregar essas energias de forma criativa, e até tirar proveito delas.

Desde a infância, o estudante de engenharia de pesca Diego Fernandes Távora, 22 anos, se acostumou a praticar atividades físicas diversas, por iniciativa da mãe, Jane Leal Stamford. Foi uma criança hiperativa, com dificuldades para dormir, chegando a se envolver em brigas com outros garotos durante a adolescência. “Sempre fui ligado em esportes, artes marciais. Já fiz capoeira, kickboxing, submission, futebol de salão, mas só com o jiu-jítsu tenho conseguido relaxar, dormir melhor e até ter mais tolerância na vida”, diz.

Embora ainda se considere superativo, de sono leve e um pouco impaciente com as pessoas mais próximas, os treinos pesados, das 16h às 18h30, diariamente, têm sido a válvula de escape ideal nesta fase recém-chegada à vida adulta. “É tão puxado que ele chega em casa morto de cansado”, diz Jane, que também curte artes marciais, e é praticante de kickboxing. Inclusive, para benefício de toda a família, ela teve a manha de agregar um novo objeto à mobília: sempre que alguém chega da rua precisando descarregar alguma chateação, basta ir ao home office da casa e despejar toda a raiva num saco de boxe.

MODALIDADES

As academias de ginástica também têm oferecido modalidades que simulam lutas, atraindo muitos profissionais de diversas áreas. É o caso da body combat, que associa exercícios aeróbicos a movimentos de boxe, artes marciais e capoeira. O indivíduo executa os golpes em frente ao espelho, imaginando-se em luta corporal consigo ou com outra pessoa.

“Os alunos reagem com muito mais energia quando digo para fazerem de conta que estão diante do chefe, ou, no caso das mulheres, de um ex-namorado”, brinca o professor de educação física Júnior Cavalcante, 29 anos, que dá aulas de combat na Planet Fitness, em Olinda, às segundas e quartas-feiras, das 18h às 19h.

Um dos alunos que mais têm agradecido os resultados no dia-a-dia é o advogado Marcus Valério Chaves, 28 anos. Embora não se considere propriamente uma pessoa agressiva, os desafios de lidar com prazos e os mais variados problemas alheios no escritório, cujo forte é a área de direito trabalhista, geram níveis de tensão nem sempre toleráveis. Após dois meses de body combat, ele já se sente mais calmo e pronto para começar novo expediente a cada segunda-feira.

“Se você acumula muita raiva, muito estresse, acaba descarregando de alguma forma. No combat, você direciona: imagina um adversário e extravasa”, explica Marcus, lamentando não haver aulas também na sexta à noite. A ginástica é oferecida por diversas academias da região metropolitana e pode ser praticada por adultos de todas as idades, desde que não tenham problemas cardíacos ou outras doenças que possam ser agravadas com exercícios de alto impacto.

Fonte: http://jc.uol.com.br/jornal/2008/08/05/not_293357.php


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