quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ricardo Balestrini - por Gilmar Viana Sales

Recebi o e-mail e publico abaixo:



Ricardo Balestrini

Eu gostaria de ter acesso a um espaço de V.Sa. para apresentar algumas sugestões para segurança pública, aproveitando sua recente nomeação para a Secretaria Nacional. Sou um policial federal aposentado, tenho formação em psicologia (tendo atuado na clínica) e em administração. A minha visão da segurança abrange mais os aspectos psicológicos e sociais que mesmo a simples olhada de um policial.


Não tenho nenhuma pretensão de cargo, salário ou holofote. Quero apenas poder apresentar minhas sugestões diretamente a alguém capaz de dar encaminhamento a elas. Também não desejo reconhecimento público nem outro tipo qualquer de manifestação. Apenas que minhas sugestões sejam levadas a sério, haja vista que meus olhares estão dirigidos aos outros lados das questões costumeiramente vistas pela frente.


Darei alguns exemplos do que falo. Faz tempos que mandei e-mails para alguns jornais e secretários da segurança solicitando que “proibissem” aos profissionais de divulgarem o suposto valor das drogas apreendidas. Dizer que a droga apreendida é estimada em alguns milhares de reais somente vai instigar pessoas gananciosas em ter aquilo em mãos. Um jovem ao ouvir que tal pacote vale cem mil reais, certamente vai pensar em como gastaria esse dinheiro, se acaso encontrasse a tal droga abandonada num canto qualquer. Será que ele pensaria em queimá-la? ou pensaria em entregar ao delegado do seu distrito? O que ele deveria fazer melhor, já que não é traficante, mas “aquilo” vale cem mil reais? Para que divulgar o suposto valor de uma droga? Para um cidadão consciente uma droga não vale dinheiro algum. Ao assistir as queimas nos fornos das siderúrgicas de uma grande quantidade de droga, várias opiniões são ouvidas a partir da divulgação do valor que teria no mercado ilegal.

Outro exemplo: Nós precisamos estabelecer uma comunicação com o delinqüente sem hipocrisias; mas para isso, regras claras teriam que ser criadas. A partir daí poderíamos educar os marginais através de programas publicitários. A comunicação já existe, apenas que de forma totalmente errada. Quem já não ouviu o delegado dizer que “ aqui no meu distrito estuprador não tem vez! Acaba sendo mocinha dos presos”? O que ele está fazendo? Ele está dando um recado aos presos sob sua custódia. Ele está “autorizando” um sistema de “justiçamento” do estuprador, antes mesmo de ser julgado pela justiça regular. O preso entende isso como uma permissão para praticar outro crime.


E o que dizer ainda dos “cuidados” como todo especialista em segurança se apressa logo em dizer?, que “quando for abordado por um estranho, não reaja, pois assim ele vai atirar em você”. Ora, a primeira parte da recomendação está correta. Porém a segunda parte, onde diz que “ele vai atirar”, é como se fosse uma comunicação tácita ao bandido, para que atirasse, já que ele é bandido e age assim. É como se o bandido dissesse entre seus pares: “ se reagir tem que atirar mesmo, pois todo mundo sabe que nós vamos atirar. Temos o direito de atirar se houver reação...”

A comunicação com o bandido, ou com a pessoa que pensa em ser delinqüente,ou ainda que aquele que se torna repentinamente um criminoso, deve ser estabelecida pelo Estado.


Não podemos fingir que não há comunicação. Apenas vamos fazê-la de forma estudada, dirigida, conduzindo a situação para onde desejamos que caminhe. É como se fosse algo assim mesmo, surreal : “ Sr. Delinqüente: ao praticar seu crime evite portar arma. Se portá-la, evite ferir sua vítima. Sua pena será mais leve!”


Pode parecer absurdo o que sugiro, porém o Estado está dizendo a verdade, para uma situação de fato. Assumir isso é enfrentar o crime dialogando com o marginal, reeducando-o para o centro da vida social, evitando os desastres que temos visto.

Espero poder contribuir com outras sugestões semelhantes, pois a minha esperança em ver essa questão da criminalidade diminuir está cada vez menor.


Obrigado, Gilmar Viana Sales

vianags@globo.com

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