quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Uma polícia sem estrutura

Uma polícia sem estrutura

Editorial Publicado em 27.08.2008

Do Jornal do Commercio

O levantamento que está sendo feito e divulgado pela Associação dos Cabos e Soldados sobre a situação dos postos de policiamento da Região Metropolitana é uma negação de todas as expectativas geradas pelo Plano Estadual de Segurança Pública em Pernambuco, do que resultou o Pacto Pela Vida. O plano e o pacto foram resultado do Fórum Estadual de Segurança Pública realizado em março e abril de 2007, dando cumprimento às promessas de campanha do governador Eduardo Campos. E desse conjunto de ações resultou a maior e mais abrangente mobilização de entidades e pessoas influentes e atuantes da sociedade civil organizada. Foram 14 pesquisadores, uma plenária com 35 autoridades estaduais e o envolvimento de 145 pessoas em câmaras técnicas, mais 19 coordenadores e 20 relatores. Uma multidão motivada e mergulhada em um projeto destinado a expor as condições de Pernambuco, cotejar essas condições com a criminalidade e apontar a medicação possível, emergencial e curativa.

Teria que ser um trabalho monumental para dar respostas imediatas a um cenário tão grave quanto o nosso, com grandes massas de pobres e indigentes, com taxas de criminalidade assombrosas – 42 mil assassínios entre 1996 e 2005 – predominantemente no Grande Recife e pólos regionais como Caruaru, Petrolina e Garanhuns. Um cenário já absolutamente grave, aguçado pela constatação de que nos últimos anos o aumento da expectativa de vida em Pernambuco não havia sido maior "devido ao grande impacto que as mortes violentas vêm representando no perfil de mortalidade da população jovem e adulta". Somente em 2004 foram 8.369 mortes na faixa etária de 10 a 39 anos, sendo 3.427, 41%, decorrentes de agressões intencionais. Entre os jovens de 15 a 19 anos o percentual foi ainda maior: 55%.

Diante disso, o que fazer? E aí o Plano de Segurança Pública foi minucioso. Para falarmos apenas da área da Polícia Militar, detalhou itens, sublinhou ações como compra de rádios, motos e câmeras para monitoramento em áreas de risco, renovação da frota motorizada, repasse de recursos à PM com a realização de leilões de veículos inservíveis, investimento mensal em tecnologias, ações operacionais, construção de sedes de batalhões, e muito mais, como nunca se viu em qualquer política pública voltada para a segurança em Pernambuco.

E, no entanto, um ano e quatro meses depois da gigantesca mobilização em defesa de um pacto pela vida, contra a criminalidade em Pernambuco, está a Polícia Militar sujeita a dissecação, revelando-se sua fragilidade em pequenos e importantes detalhes como vidros quebrados, goteiras e armamento inadequado, instalações precárias para o funcionamento de postos de policiamento ostensivo no Grande Recife. E, mostra a nossa editoria de Cidades, não se trata de arenga da Associação dos Cabos e Soldados, mas resultado da cobrança feita por policiais que enfrentam os problemas no dia-a-dia. E se sabe, agora, que a Associação já havia mostrado as deficiências no trabalho de policiamento do Grande Recife, em relatório entregue ao Ministério Público de Pernambuco.

A situação, segundo diretores da entidade dos cabos e soldados, não mudou nos últimos dois anos. Nossa reportagem foi conferir as observações críticas da Associação e encontrou em alguns postos o depoimento de quem passa pelo constrangimento de cuidar da segurança pública em condições precárias e cumprindo tarefas que, seguramente, nada têm a ver com o Pacto pela Vida, como o policial ficar parado em um posto apenas para solicitar viatura, sem sair do lugar. Sair, só quando chove por causa das goteiras ou para usar o banheiro em uma casa por perto. Outras avaliações expostas pela Associação dos Cabos e Soldados de Pernambuco deixam no ar a suspeita de que o policiamento que se pratica hoje não é nem de longe proporcional à gigantesca mobilização que deu forma ao Plano Estadual de Segurança Pública.

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