quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Foi a greve da PM que me derrotou

ENTREVISTA » ROBERTO MAGALHÃES

“Foi a greve da PM que me derrotou”

Publicado em 02.08.2008 JC

A campanha à reeleição do ex-prefeito Roberto Magalhães não lhe deixou apenas a marca da derrota para o petista João Paulo. Talvez ele tivesse até virado a página, com mais quietude, se aquela disputa de 2000 tivesse se resumido a sua reprovação nas urnas. Mas foi mais do que isso. Foi a eleição que “abalou” o conceito político do ex-prefeito, ex-governador e hoje deputado federal, segundo ele próprio confessa. Os dois episódios que marcaram aquela campanha – o de seu ingresso, armado, na redação do JC, e a “banana” que deu como resposta à confusão que se estabeleceu no último domingo de atividades, em Boa Viagem – feriram gravemente o ex-prefeito. Até hoje, ele pouco ou quase nada se permite a falar sobre tudo o que viveu naquele ano. Mas conversando sobre um dos temas que vem pautando o atual debate eleitoral, o problema do trânsito nas grandes cidades, Magalhães abriu seu baú de tristes lembranças. Por iniciativa própria. Por isso que a entrevista não abre com uma pergunta. Magalhães comentou fatos marcantes da campanha de 2000.

ROBERTO MAGALHÃES – Vou contar um fato para vocês que nunca tornei público. Eu fui cobrado, xingado, caluniado no projeto de Brennand (no Marco Zero), mas aquela obra foi feita na minha gestão e se não fosse eu, que nunca fui contra, não existia. Sabe por quê? Porque quando a coisa estourou, finalmente, e o grupo de dois arquitetos e Brennand deram a obra por terminada, eu fui ao Palácio e disse a Jarbas (governador): ‘Jarbas, é muito ruim se essa obra não for feita. Porque eu vou ter sido o responsável, mas você também vai porque é governador. Será muito ruim para nós’. Ele então me perguntou o que fazer. ‘Tenho uma solução. Vamos assinar uma nota fazendo um apelo para que os três retornem ao trabalho e façam a obra’. No primeiro dia, vieram ao meu gabinete os dois arquitetos. Brennand não me procurou, mas procurou talvez alguma consultoria, e a obra está feita. E no entanto eu sou execrado por uma coisa que não fiz. A minha mulher, coitada, que foi acusada de ser contra a obra, nem conhecia o projeto. Projeto esse que eu levei a Brasília com Jarbas e Raul Henry, que era secretário de Cultura. Pedi ao ministro que desse prioridade. O que posso dizer é que tenho hoje a convicção de que aquilo (as informações de que ele teria sido contra a obra) foi uma armação para acabar com a minha imagem. Do mesmo jeito que na minha última passeata (em 2000) colocaram um trio elétrico na avenida e gente do PT dos dois lados. Eu estava com minha mulher ao lado. Um homem que vê uma coisa dessa e não reage não é homem. Então eu reagi (com a ‘banana’). Mas não posso contar a vocês tudo que eles fizeram. Não devo contar, não posso. É coisa baixa demais para se contar.

JC – Mas o senhor se arrepende dos dois atos – da ‘banana’ e do episódio do JC? Marcaram sua vida política?

MAGALHÃES – Marcaram. Mas prefeito é para isso mesmo.

JC – Foram esses episódios que lhe derrotaram em 2000?

MAGALHÃES – Não. O episódio que me derrotou não foi nenhum dos dois. Eles abalaram o meu conceito.

JC – O que lhe derrotou?

MAGALHÃES – Foi a greve da Polícia Militar. E que foi provocada por um outdoor que não passou pelo meu crivo. Um outdoor negro: Arraes, greve da polícia nunca mais. Tanto que, eleito, João Paulo, no dia seguinte, tomou café com os grevistas no Palácio e a greve acabou. Nenhum jornal sequer assinalou isso. Por quê? Porque a finalidade estava atingida. Eu era muito forte, muito forte. Mas virar a cabeça do eleitor? Fui o exemplo de um candidato que não era para perder e perdeu.

JC – O senhor não aprovou o outdoor e ele foi produzido com que argumento?

MAGALHÃES – Nunca discuti isso. Porque o Lavareda... O problema é que os candidatos de Jarbas sempre tinham que ter Lavareda. Porque era da confiança, etc, etc... Agora o que ele (Lavareda) fez com Cadoca foi muito pior (na eleição de 2004). Cadoca quis ir defender a mulher dele na televisão e ele não permitiu (no episódio de Maria do Socorro). Cadoca tem horror a ele. Eu disse logo a Mendonça: ‘Você vai querer Lavareda? Então desista logo de ser governador porque não vai ser’ (em 2006).

JC – Então o senhor acha que o episódio da greve da PM foi mais forte que os anteriores?

MAGALHÃES – Foi. São oito mil famílias de praças e oficiais no Recife.

JC – Mas nos episódios anteriores o senhor teve seu conceito abalado, principalmente junto ao seu eleitorado?

MAGALHÃES – (faz silêncio e um movimento com a cabeça em sinal de afirmação). Exploraram muito. Primeira página de jornal. As pessoas, a quem atribuíram essa armação contra mim, não tinham força para isso. Poderiam até ter força para pensar, para instigar, mas para levar isso adiante... Isso foi de gente muito mais alta. Os jornais todos entraram nessa (na divulgação). O Jornal do Commercio não entrou no dia. Mas depois não pôde mais controlar. Agora veja que coisa, aquele monumento não existiria se não fosse eu. E pagar esse preço, hein!

JC – Como ficou seu relacionamento com Brennand?

MAGALHÃES – Nunca mais nos encontramos. Acho que ele foi um instrumento. Ele não iria criar isso. Apenas... Sabe como é artista, né? Se deixou levar e escreveu aquela carta. Por que ele não telefonou para mim? Um telefonema resolveria tudo. Eu condecorei Brennand quando ele fez 70 anos. O irmão dele, Ricardo Brennand, sempre foi meu eleitor. Hoje toda a família ficou meio assim comigo. Eu não tive culpa nenhuma. Mas fiquei calado porque há momentos que não adianta falar. Não tem o ditado “cão danado, todos a ele?” Quando você é cão danado não adianta latir. Aguarde, que um dia você vai ter a oportunidade. Mas vocês estão espantados com as minhas revelações, não?

JC – Quando o senhor decidiu ir armado ao JC o que pensava em fazer? Chegou a exibir a arma?

MAGALHÃES – Não, não tirei. Até porque se eu tirar, atiro. Meu código de honra é esse: se tirar a arma é para atirar. E eu não fui matar, você é louco! Podia matar outro, mas Orismar nunca. (Orismar Rodrigues, colunista social do JC, que faleceu em outubro de 2007). Apenas fui armado porque sabia que tinha segurança e não queria ser desmoralizado. Pelo meu código de honra, sertanejo, eu morro, mas não sou desmoralizado. Quando saí de casa, não sei o que ia fazer. Ia ter uma conversa com o jornalista e não sei o que iria fazer. Poderia até ter deixado o revólver no carro. Não deixei porque ali tinha muitos seguranças. Eu podia sair dali preso? Levar um tapa de um segurança? Não podia. Era prefeito, ex-governador... Você carrega isso pelo resto da vida. Ninguém me barrou por um milagre, né! Mas fui absolvido por um júri da TV Cultura que alegou falta de provas e de direito de defesa. Depois disso tudo, tive 204 mil votos para deputado federal, sendo 106 mil no Recife.

Fonte: http://jc.uol.com.br/jornal/2008/08/02/not_292960.php
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Vejam como somos fortes amigos, basta agirmos. Sem medo, mas com vontade e coragem.

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